sábado

A Grande Guerra

A Primeira Guerra Mundial inicia a Era das Catastrofes de Hobsbawm e é, na memória de britânicos e franceses, conhecida como a "Grande Guerra". Ela foi mais traumática e terrível do que a Segunda Guerra Mundial na memórias de muitas pessoas, porém dificilmente ouvimos falar da Grande Guerra, porque? Com certeza a proximidade da guerra de ideologias é um dos fatores, mas não explica. Sabemos mais do império de Augusto do que do século X. Um dos grandes fatores está na Indústria do Holocausto, é impressionante a quantidade de filmes, documentários, filmes e revistas que retratam os bizarros campos de concentração de Auchwitz e Treblinka e, por consequencia, acabam por produzir por outras temáticas também. Outro grande fator é a ascenção dos partidos autoritários de extrema esquerda e de extrema direita, que fascinam inúmeras pessoas no mundo todo e ainda tem inúmeros adeptos.
Na Primeira Guerra Mundial a tecnologia militar ainda engantinhava. Apenas os submarinos tiveram eficiência importante, principalmente para desabastecer o inimigo destruindo navios de carga. Os blindados, inaugurado por britânicos, não foram eficientes pela rudimentarização e pela falta de manuseio dos generais. Aeronaves eram extremamente leves, fragéis e de uso perigoso, os alemães ainda tentaram usar estranhos balões com forma de charuto para bombardeio, mas não foram eficazes. A Grande Guerra não contava com macabros campos de concentração e o espírito do General Clausewitz ainda paraiva sobre os exércitos, existindo um respeito infinitamente maior com a população e os prisioneiros do que na Segunda Guerra. Então, porque, para muitos, a guerra de 14 é pior do que a de 39?
A Grande Guerra era travada por trincheiras e com pouquissima mobilidade na Frente Ocidental ,que se situava proximo ao rio Marne, alguns quilometros de Paris e cortavam toda a França, de Flandres a Suiça, deixando boa parte da França Ocidental e Belgica para os alemães. "Essa era a "Frente Ocidental", que tornou a maior máquina de massacre provavelmente sem precedentes na história das guerras." Eric Hobsbawm, A Era dos Extremos. As trincheiras eram buracos cavados no solo em forma de túneis bem profundos, as paredes eram sustentados por toras de madeiras e haviam sacos de areia e telas e teias de arame farpado na barricada voltada para o inimigo. "Entre as trincheiras havia um "território de ninguém", um caos de crateras de granadas inundadas de água, tocos de árvores calcinadas, lama e cadáveres abandonados."Idem. Os homens ficavam longos perídodos nesse local infernal e apertado, passando dias ou semanas sob fogo de artilharia. Um olhando para o outro, convivendo com doenças, muito calor no verão e muito frio no inverno, umidade, cadáveres apodrecendo, medo, angustia, ratos e piolhos. Um inferno digno dos campos de concentração nazista. Mas isso ainda não era o pior, quando um dos dois lados decidia tentar romper a frente inimiga, milhares de homens saltavam as barricadas e corriam contra granadas, rajadas de fuzis e tiros de rifle, uma verdadeira corrida para a morte que fazia com que milhares de soldados caíssem sem vida no chão. A tentativa alemã de romper a barreira em Verdun no ano de 1916 resultou em dois milhões de mortos, um milhão para cada lado. Fracassou. Os oficiais ingleses desacostumado com esse tipo de guerra iam, "heroicamente", na frente de seus pelotões. Eram os primeiros a terem a vida cefeida. Um quartos dos jovens alunos de importantes universidades inglesas foram mortos.
A Primeira Guerra inaugura o conceito de Guerra Total, uma guerra sem objetivo delimitado ou especifico, uma tentativa de subordinar e incapacitar, completamente, o inimigo. A Alemanha queria as colônias inglesas, e isso, é quase, querer o mundo. Uma guerra que foi até a rendição incondicional do país teutão, que lutou praticamente sozinho e ainda teve que ajudar seus aliados e, ainda sim, quase venceu, a máquina de guerra alemã era muito mais poderosa que qualquer outra da época, assim como na Segunda Guerra. Depois dos teutões terem vencido completamente no leste, eles partiram com tudo para Ocidente, rompendo o bloqueio francês e vencido a guerra se não houvesse intervenção dos norte-americanos. Uma guerra que deixou um trauma nos europeus pela sua violência, crueldade e desumanidade. Uma guerra destruiu toda a Europa, que exigiram que a Alemanha pagasse os seus gigantescos prejuízos, mas não destruiu apenas a infra-estrutura dos países europeus, ceifou a vida de uma quantidade inimaginavel de jovens saudaveis em idade militar, e o pior, destruiu o psicologico de inúmeros sobreviventes e observadores da guerra. Os homens saíam da guerra como pacifistas convictos ou criaturas desumanizadas e brutalizadas pela guerra, entre esses, um cabo baixinho, pintor frustado, fã de Richard Wagner e com um estranho gosto para bigodes.
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A Era dos Extremos- HOBSBAWM, Eric.
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Ávilla Q. B. Filho
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11/04/2009 11:48 am
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Um comentário:

Dcy. Rb. disse...

Deveras, essa guerra inaugurou o século que, apesar de ser o mais bem documentado da história, por sua densidade intelectual, factual, complexidade de interligação(advento da globalização), etc, ainda é o mais estudado atualmente.

Mas as guerras não são o único assunto a ser abordado sobre essa era... Há assuntos os mais diversificados possív...(ops!)Levanto-me para atender um homem que, do portão, pede uma ajuda (em alimentos) para a família.

Eu, como um perfeito patife de última categoria, não querendo ser alvo de decepção resignada(nem de automutilação da consciência), vou perguntar à empregada da casa se há como ajudar[no pensamento, nem utilizo a primeira pessoa "ajudarmos"(o que mostra a tentativa do subconsciente de livrar-se da responsabilidade)], se tem alimento pra dar e me escondo sob o argumento de que a empregada e a mãe, sendo as responsáveis pelo controle dos insumos, são soberanas nessas decisões, mesmo sabendo que sou senhor das minhas ações e que a repreensão por qualquer maior arroubo de solidariedade minha nunca seria mais significante do que o sentimento de hipocrisia superada que me inervaria, dada a formação ética que me foi passada.

Levo a resposta negativa ao homem, que faz um muxoxo e, sem me olhar uma vez, surdo a qualquer justificativa (que também fazia a mim, tentando convencer-me), levanta sua trouxa do chão e vai-se embora. Volto pro computador, onde ligo o player que toca "Caetano Veloso - Panis et Circensis" e volto a tentar entender o mundo...

A graça do mundo está no suspense-tensão causado pela presença da humanidade, raça imperfeita com tantas pretensões à perfeição que, em si projetou Deus:"E fez-se o ego humano!"Enquanto há espaço para retórico-lirismos mil sobre o espaço e o inespaço, encontros e desencontros, rosas incandescentes ao dissabor da língua do século; já existem o casuísmo e a ética religiosas como mediatrizes de grande parte da alma humana, originando os fundamentalistas intransigentes e os pacifistas estoicos; há também outro espaço para o empirismo cético científico do carbono, da eletricidade, dos postulados, teoremas, axiomas e truísmos; há reservada, claro, uma lacuna aos avassaladores devassadores de fronteiras da imaginação: do infinito(pequeno ou grande), das dimensões e do tempo...E vai-se completando as várias facetas da nossa realidade...

E chega-se ao imeeenso espaço destinado à alienação, magnânime sedutora dos sensos e atenções, inocência devótica religiosa, simples saciação dos resquícios derivados dos instintos hedônicos mais intrínsecos ao DNA, uma insignificância no universo do Big Bang. Todos têm um alienante(o seu, chuto, seja futebol ou bebida). Desse modo, que fazemos de nós?

O Século XX termina sem nenhuma luz sobre os maiores problemas da humanidade. Só mostra o progresso continuado do capitalismo baseado na exploração ambiental. Espero que o planeta sobreviva à raça humana (na qualidade de humano, penso isso egoisticamente, lembrando-de da minha descendência, claro). Êta Século Vinte Danado!

O otimisma acha este o melhor dos mundos;
O pessimista tem certeza...
Criança; sem preocupações ou maldades; onde tudo a imaginação transforma em divertimento e brincadeira, onde a maior preocupação é como se divertir e principalmente longe dessa hostil realidade.
Sinto falta, mas é o preço que se paga por um mínimo de lucidez.