sábado

O Mal de Santo Huberto.

Tentarei montar um leve conto, em que tentarei mostrar minha mais nova descoberta histórica, o verdadeiro horror e a letalidade da Raiva no século XVIII, que quase levou a extinção dos lobos no velho continente.
Guraav de Fewuus era um jovem ferreiro numa pequena aldeia na França, bem próxima a Via dos Lobos, de onde viam lobos da Europa Central. Eram animais formidáveis, chegavam a pesar setenta quilos, com maxilar, pescoço e patas dianteiras extremamente musculosas. Causavam pavor na França e em toda Europa. Uns diziam que eram venenosos, outros que passavam a possessão demoníaca conhecida como " O Mal de Santo Huberto", seja qual for a explicação, a entrada de um lobo ou cachorro com os sintomas do mal causava o um verdadeiro pavor na aldeia ou cidade. Pessoas se trancavam em suas casas, se armavam com o que podiam, havia sinos para alertar a população e o algoz do lobo era pesadamente recompensado.
Guraav era um jovem extremamente corajoso, sua coragem já era tolice. Não podiam colocar sua hombridade á prova, que ele aceitava o desafio.
Em uma certa manhã de sábado, enquanto ele trabalha em ferraduras de cavalos, o sino deu o alerta de perigo. O jovem Fewuus já se preparava para fechar as portas quando viu vários homens correndo de um lobo possesso. Era exatamente como as pessoas contavam, enorme. Latia vorazmente enquanto seus olhos reviravam e sua enorme mandíbula salivava.
O jovem tolo não pensou duas vezes em pegar o seu martelo de trabalho, ainda em brasas, e sair para a rua. O lobo vendo aquela pessoa imóvel parou de perseguir as outras pessoas e virou-se para o jovem Guraav. Sua enorme cabeça se mexia lentamente, como quem procura o melhor angulo para atacar, suas narinas ofegavam agressivamente, como se sentissem o cheiro de sangue do ferreiro, sua enorme mandíbula mostrava as enormes adagas de marfim que vitimaram tantos iguais aquele. E em um piscar de olhos, a fera abriu o enorme maxilar e saltou contra o corajoso. Guraav, que nunca tinha brigado, começou a mexer o martelo no ar na esperança que acertasse o seu algoz. De fato, o martelo acertou as costelas do animal, que com mais raiva ainda, acabou por abocanhar a sua pernas com extrema violência. Ele gritou como nunca tinha gritado antes, largou o martelo no ato, enquanto fera estraçalhava a sua perna freneticamente. As presas estavam fincadas na coxa do ferreiro, enquanto a fera movia a cabeça incessantemente. Graças aos gritos do jovem, outros aldeões, armados com foices e bastões, acabaram por afungentar a besta.
E agora? O que vou fazer? Pensou Guraav. Ele já tinha visto pessoas que pegaram o mal, tinham mortes horrendas. Passavam por um sofrimento gigantesco antes de irem para a terra dos justos. Ele havia ouvido que cauterizar o ferimento, o mais rápido possível e o mais profundo possível, poderia resolver o problema. O jovem francês, então, pediu a ajuda de um amigo ferreiro. Amarraram-o numa mesa, o médico da cidade mandou cauterizar o mais fundo que pudesse, não importando o quanto houvesse gritos. E foi feito. Pela segunda vez no dia, o infeliz conheceu o inferno, mas ó nos primeiros círculos. Depois da "cirugia", o médico receitou que ele comesse cebolas e que pegasse uma galinha, depenasse seu traseiro e colocasse-o na ferida, apertando seu pescoço até que ela abra a traseira para expurgar o mal.
O jovem franco, durantes vários dias, comeu o máximo de cebolas que pôde, e ceifou a vida de inúmeras galinhas. Ouviu falar de uma tal abadia de Rosieres que era considerada um local de cura desse mal, mas era longe e ele estava, temporariamente ou não, coxo. O padre havia dito que rezar cinco pais-nossos, cinco ave-marias, fazer dois sinais da cruz e recitar o glória ao pai faria com que a fera diabólica não o atacasse, Fewuus se perguntou se daria tempo fazer tudo isso.
Passaram-se cinco dias, durante uma noite, o doente sentiu o corpo estremecer e ficou assustado. Não sabia o que fazer, morava só. Guraav começou a comer cebolas violentamente enquanto olhava se havia alguma galinha no seu quintal, não durou muito e começou a perder o controle do corpo. Agarrou um cruxifixo com força, quando percebeu, seu punho havia atravessado a janela de vidro de seu quarto, ensanqüentado-o todo. Numa fúria possessiva, começou a estraçalhar seu quarto com as mãos, enquanto acordava a aldeia com seus gritos estremecedores. Não tardou para uma equipe de homens fortes e um padre chegassem a sua casa, com muito esforço, eles arrastaram o jovem possesso e amarraram-o num enorme pilar que ficava no centro da aldeia, enquanto eles amarravam o infeliz, Guraav conseguiu morder e quase arrancar um pedaço da orelha de um dos seus rapitores.
O jovem Fewuus então emitia um grito que lembrava um rosnado e que misturava agonia, tristeza e raiva. Seu rosto, levantado para os céus escuros, com a boca salivando e suja de sangue, mostrava uma feição que beirava o demoníaco. O padre, olhando para os aldeões que o ajudaram a parar a fera, disse que aquele era o som o do inferno e que aquele era o semblante dos perdidos. O ferreiro almadiçoado então, com o acesso de raiva passando, falou para o padre lhe dar a benção final e que os homens que ali estavam o executasse, ele sabia que não viveria mais do que alguns dias, e não queria sofrer mais. O padre, ex-inquisidor, deu-lhe a benção final e ordenou que um dos camponeses enterrar fundo o bastão de ponta afiada no peito do pobre Guraav. Ele sabia que era contra lei canônica, mas o velho padre e inquisidor, que já viu a morte inúmeras vezes, viu que aquilo era bem pior.
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Ávilla Q.B Filho
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28/03/2009 03:40 am
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