sábado

Sacia-se, Oh Deus, Com Nosso Sangue.


Durante o século XIV, a Peste Negra assolou a Europa dizimando cerca de 75 milhões de pessoas. A doença que tem como o vetor o rato, e assombrou a Europa, a China e o Oriente Médio.
Bocaccio descreveu-a como: "Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais". A higiene e a estruturação das cidades na época, em que os homens coviviam com seus próprios dejetos, ajudava bastante na propagação da peste. Quanto a mortalidade, Guy de Chaulic, famoso cirugião da época, falava de dois tipos de peste: em uma delas, a vítima apresentava expectoração sanguinolenta, na outra havia febre contínua e inchaço de axilas e vírila. Era tão contagiosa que nem pais e filhos poderiam se ver. Os pobres coitados que havia suspeita de ter peste eram expulsos das cidades por um período de quarenta dias, muitas vezes, instituições clericais abrigavam-os. Os cemitérios já não tinham estrutura para a quantidade de mortos, que passaram a ser empilhados.
A população descreu violentamente. E mais violento, foi a reação das populações perante o que eles acreditavam ser uma verdadeira "Cólera Divina". Judeus, que por hábitos higienicos eram menos afetados pela peste, e foram caçados violentamente, acusavam-os de envenenarem a água, e houve mais de cento e cinqüenta pogroms. De tão violentos e freqüentes, muitos judeus migraram para a Polônia e para a Rússia. Leprosos também eram mortos impiedosamente, acusados de disseminar sua praga, assim como qualquer pessoa que apresentasse algum problema sério de acne. O papa Clemente IX proibiu qualquer represália a leprosos, doentes ou judeus, porém não foi escutado.No desespero da situação, Vossa Santidade chegou até mesmo a permitir a autópsia de cadáveres de mortos pela praga divina.
Nesse caos total, nasceu um movimento religioso, os Flagelantes. Confiantes que estavam passando por uma cólera divina, essas pessoas acreditavam que deviam expiar os pecados do mundo se martirizando em longas e sangrentas procissões. Os Flagelantes, que surgiriam em Perugia na Itália, faziam procissões pelo mundo e ficavam cerca de trinta e três dias em cada cidade, onde entravam em enormes procissões se açoitando com chicotes, cintos e cordas com extremidades cortantes, enquanto oravam e pediam com enorme clamor pelo fim desse martírio, muitas vezes, eles pegavam espectadores para participar do espetáculo de masoquismo e bizarrice. Eles, diretamente ou indiretamente, incitavam as represálias contra judeus e leprosos. Alguns Flagelantes chegavam a morrer devido a quantidade de ferimentos aflingidos por eles mesmos. Com o tempo, as cidades passaram a fechar as mulharas para as hordas de fanáticos e masoquistas, e a Igreja passou a persegui-los, enfraquecendo o movimento até ele extingüir-se naturalmente.
Para se ter uma idéia, em cinco anos, inúmeras cidades ficaram completamente vazias e outras ficavam com dúzias de pessoas. No fim dessa época, o trabalho servil ficou mais escasso, assim, os servos tiveram uma maior libertação dos impostos feudais e exijiam uma maior parte da produção, ajudando o desmantelamento do Feudalismo.
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Ávilla Q.B Filho
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28/03/2009 04:46am
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